Em uma cidade do interior de São Paulo, Martinópolis, vivia uma família muito simples. O pai cultivava hortaliças para vender, mas não ganhava muito dinheiro. A mãe era exímia cozinheira e dona de casa, mas não ganhava nada com isso.
Os filhos, Nice e Iracílio, gostavam dos brinquedos que as outras crianças, mais ricas, tinham. Aviõezinhos, bonecas e caminhões de metal eram sonhos. Nos seus aniversários ganhavam flores raras ou um passeio pela cidade, e, muuito raramente, compravam brinquedos lá.
No aniversário de Iracíio, o pai ficou pensando: "Poxa vida, o que é que eu vou dar ao meu filho?" "Já dei um pião feito por mim, um caminhão de madeira para puxar, vara de pesca de bambu, o que mais?". Estava refletindo assim quando uma maravilhosa ideia lhe veio na telha.
Chegado o dia, o pai disse:
-Lembra que você gostou da história do índio que eu lhe contei? Agora veja, um arco e flecha igual ao do Shimou, da história.
-Obrigado, papai, adorei! E tem uns ornamentos nas flechas, escrito... O flecha?
-Sim, você agora tem um apelido. Espero que goste.
O filho adorou o presente, e agora brincava com ele toda hora. A irmã, maravilhada com a habilidade do irmão em lançar flechas, quis brincar. O irmão, egoísta, não deixava.
Assim, chegou o aniversário de Nice e a mãe fez uma linda boneca de pano, recheada de arroz. Linda, linda: o rosto costurado em linha, com um desenho de boca, olhos e nariz lindos!
Era a primeira boneca de Nice, e ela adorou! Brincou de várias coisas, modelo, passeio ao shopping e até viagem ao espaço. Um dia, quando estava brincando, foi passar por cima da cama do irmão e, sem querer, sentou em cima do arco e flecha dele.
É claro que ela pediu desculpas, mas o garoto não aceitou de jeito nenhum. Ficou tão bravo, tão bravo, que esqueceu sua educação e resolveu revidar. Pegou a boneca de Nice e a enterrou no quintal.
A menina foi brincar com a boneca e cadê? Procurou em cima dos móveis, em seu quarto e nada. Pediu ajuda da mãe e do pai, mas nada.
Deixaram para lá. Um mês depois, a mãe foi no quintal para pegar couve e viu um pé de arroz. "Ué, mas antes não tinha esta planta aqui?''-pensou.
Foi ao pai e a família:
- Quem foi qua plantou este pé de arroz atrás de casa? Se o culpado não aparecer, vou ter que investigar e se eu descobrir vai ser pior.
Agora o menino entendeu tudo, e a mãe também. Mas ela queria ver ele falar.
-Mãe, fui eu. Coloquei a boneca de Nice em baixo da terra no quintal e lá cresce um pé de arroz.
A mãe e a irmã desculparam Iracílio, mas ele levou um castigo: ajudar seu pai no cultivo das hortaliças por uma semana.
Moral: Nunca faça para os outros o que você não quer que façam para você.